quarta-feira, 26 de março de 2014

Chá de Hortelã [comentários livrescos]: Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar


e como dói
Lavoura Arcaica
Raduan Nassar
Record, 1989
200 páginas

Por Vanessa Regina

Pois bem. Eu não queria escrever sobre este livro. Ou até queria. Foi duro, difícil, áspero. E de uma poesia sem fim. Raduan causou uma tremenda desordem na minha pacata vida de leitora. Raduan Nassar. Como eu vivi até agora sem ler este cara? Pois é. Antes tarde do que.
Em Lavoura Arcaica (1975), André,  o personagem central da narrativa,  expõe o caos em que se transformou sua vida interior devido à opressão familiar representada pela figura do pai. Logo após abandonar o lar materno, André é procurado pelo irmão Pedro que tenta demovê-lo e levá-lo de volta ao seio da família. Inicia-se então uma vertiginosa reflexão acerca das complexas relações familiares e em que medida isso nos afeta enquanto adultos [além de inúmeras outras questões que a obra suscita].  Além desse “desajustamento”, André ainda mantém uma relação ambígua com a irmã Ana, talvez a fonte de todo o seu descontrole [agora chega de spoiler e leiam o livro, pelamor!]. Qualquer comentário a se fazer aqui será insuficiente para demonstrar o quanto Raduan Nassar é maravilhoso!
Eu só queria ressaltar que a sua linguagem poética é de tirar o fôlego!  Há tempos uma obra literária não me sacudia tanto. Lavoura me doeu. E ainda dói. Mas tudo passa. Ou não:

“O tempo, o tempo e suas águas inflamáveis, esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso, ele próprio conhecendo seus caminhos, recolhendo e filtrando de várias direções o caldo turvo dos afluentes e o sangue ruivo de outros canais para com eles construir a razão mística da história...” 

(p.184)

Five stars no Goodreads!

Por hoje é só, até a próxima!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Ótima resenha de um livro incrível que mudou minha vida e a forma de encarar uma narrativa: o experimentalismo lírico da linguagem, a intensidade dramática dos diálogos, a tensão existente na família patriarcal "arcaica" e seus dilemas - afetivos, sexuais. Um dos meus favoritos.

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